O real papel do conselho

por Eliana Dutra

Vemos constantemente como tema de discussão a atuação dos presidentes e líderes de corporações, como engajar seus colaboradores, como criar um ambiente produtivo e harmônico etc. Contudo, pouco se fala do real papel de outros elementos essenciais para a boa condução do negócio: os membros do Conselho da Administração. Eles são vistos muitas vezes apenas como aqueles que cobram resultados ou “impõem” decisões sempre em busca do lucro da empresa.

É comum este estereótipo se manter no imaginário das pessoas, até porque eles têm como função representar os acionistas e os investidores. Assim, é compreensível que muitos ainda pensem que eles são capitalistas selvagens em vez de colaboradores para o bom andamento dos negócios. Contudo, a real atuação dos conselhos, deveria ir além, já que são os mais indicados a assumirem o papel de parceiros e mentores do CEO.

Como o trabalho de liderança pode ser solitário em diversos momentos, devem servir como um sounding board, ou como mentor junto ao presidente, ou seja, apoiar o seu desenvolvimento. Até porque CEO e membro do conselho, geralmente, possuem pontos de vista diferentes e complementares, nem por isso divergentes. O CEO tem a visão mais profundada vivência do negócio e o membro do Conselho tem a visão mais ampla do mercado. Mas, não confundam mentoria com co-gestão. O conselheiro não vai oferecer respostas prontas mais sim questionar e ir ao auxilio do mentorado para apoiar na busca de soluções inovadoras.

Por sua vez, cabe ao CEO não só gerir a empresa, mas também compartilhar com o conselho decisões estratégicas, como, por exemplo, a escolha do sucessor. Contudo, o desenvolvimento e a preparação ficam a cargo do próprio presidente. Essa “dobradinha” torna não só a empresa mais forte no mercado como também perante os seus funcionários, já que demonstra uma imagem de unidade e comprometimento. Para isso é necessário um ambiente de confiança.

Há problema, no entanto, quando os membros do conselho se dividem em partidos e acabam com essa parceria tentando ou passar por cima da autoridade do CEO ou buscando coopta-lo para algum plano já pronto. Não é incomum em algumas companhias um conselheiro usar bypass e abordar diretamente um membro da equipe do CEO para dar opiniões ou fazer questionamentos sem a ciência ou prévia autorização do CEO. Tal atitude gera desconforto no principal líder e dá a sensação às equipes de que conselho e gestão não se entendem, o que provoca sentimento de insegurança na equipe sobre seu próprio futuro.

A angústia da cúpula de não estar no controle de todo o processo é normal na natureza humana, mas é melhor investir tempo e recursos melhorando o sistema de informações da organização do que ir buscar os dados pelas costas do CEO. As consequências do bypass podem ser graves: problemas de relacionamento, prejuízos, funcionários manipuladores etc. Além, de causar confusão nos próprios colaboradores para quem eles devem realmente se reportar, gerando assim a sensação de “bola dividida”.

Logo, o Conselho pode até no curto prazo funcionar impor suas ideias através de subterfúgios ou criando uma guerra de autoridade, mas ao longo prazo equipes inseguras não levam a empresa aos melhores lucros, a utilizar a sua melhor forma de negociação, a respeitar o papel na hierarquia da organização usando as boas práticas recomendadas, por exemplo, pelo IBGC. Afinal, as boas práticas recomendadas não são só burocracia, são as formas de jogar que reconhecidamente levam a empresa à vitória.

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Carla Dutra Artes / Tiver e Entranet