por Eliana Dutra
Criatividade, resiliência, competitividade, capacidade de adaptação e poder de decisão são algumas das qualidades supervalorizadas no meio corporativo. Mesmo assim, alguns profissionais esquecem a mais importante delas. Aquela que mantém o equilíbrio das atitudes tomadas diariamente: a autocrítica. Isso porque a habilidade de fazer uma reflexão sobre seus atos, listar os pontos falhos e, principalmente, reconhecer os erros é para poucos. É um exercício que requer energia, paciência e principalmente mente aberta para aceitar a verdade: sim, você é humano e passível de erro.
Contudo, muitos líderes consideram, ainda hoje, que isso não se refere à posição que ocupam, já que devem estar acima de qualquer falha humana para que a equipe mantenha o respeito por eles. Exemplo disso é a declaração da presidenta Dilma em seu recente pronunciamento: “Se cometemos erros – e se isso é possível – vamos superá-los”.
O que isso nos mostra? A cegueira da arrogância, já que não admite claramente os erros cometidos e chega até mesmo duvidar que isso seja possível. Ao se agarrar a uma imagem de perfeição, a presidenta passa a ser uma figura quase risível, como no conto de Andersen: a Roupa Nova do Rei, mais cedo ou mais tarde todos descobrem que o rei está nu. Essa falta de uma autocrítica real é um fator perigoso para o país tanto quanto um CEO viciado em vaidade é para a organização.
Nos dias de hoje, com tanta mudança e incerteza, mais do que nunca é importante ter em mente que a liderança tem sua base na confiança. E essa credibilidade só consegue ser criada e mantida quando o líder mostra a sua humanidade, que erra, que nem sempre prevê tudo que vai acontecer e cujo discurso nem sempre pratica, mas que busca se aperfeiçoar, refletindo sobre suas falhas. Tal atitude contribui diretamente para o clima da organização, para o engajamento dos funcionários e, consequentemente, para o aumento da produtividade.
Caso contrário, pode acontecer uma realidade similar a da seleção brasileira na última Copa do Mundo, onde os jogadores passaram por cima da autoridade do técnico para ajudarem uns aos outros. Resultado: o técnico perdeu não só a credibilidade junto ao time como também junto a toda população brasileira, principalmente, por não reconhecer os seus erros e mostrar um gesto concreto de desculpas. Até porque um pedido de desculpas, feito na hora certa, tem mais chances de consertar uma situação ruim do que agravá-la.
Da mesma forma, a autocrítica em excesso pode ser negativa, pois demonstra falta de autoestima e transmite para a equipe a sensação de um líder inseguro, que não corre os necessários riscos e que atrasa os processos decisórios. Então como atingir o equilíbrio?
Para o líder entender o poder e os limites do reconhecimento do erro, do gesto de desculpas bem como de não exagerar na autocrítica, é crucial que ele ouça o feedback da equipe. Até porque se não ouvir, eles falarão nos corredores como vem demonstrando o vice-presidente, Michel Temer, ao deixar escapar comentários bem apurados.
Como é difícil para o ser humano ouvir este feedback da equipe e alcançar o equilíbrio entre apontar o prórpio erro e não mostrar insegurança, o coach profissional vem ajudar através de um feedback isento e neutro que leva a reflexão e evita a inútil fuga da responsabilidade.
Um líder não conseguirá ser um verdadeiro líder se não abraçar seus próprios erros e se não despir sua armadura de desculpas. Ao admitir para si mesmo e os demais que é humano e falha, será capaz de tomar atitudes diferentes em uma situação futura e também de orientar seus colaboradores através do processo do que aprendeu. Assim, é possível estabelecer um novo tipo de relação, onde a confiança é o alicerce.